Há tempos estou para escrever sobre essa moda das
calças rasgadas. Isto é, a respeito desse modismo que era uma característica do
vestuário da juventude rebelde dos anos 80 e que, de repente, entrou no
circuito das butiques sofisticadas, nas revistas de moda, na indumentária das
cantoras de sertanejo e por aí afora. O costume de rasgar as calças parece vir
da cultura punk, que se esmerou em estetizar um visual contestador – no corte e na cor dos cabelos, no vestuário – e lá pelas tantas a coisa
transbordou desse nicho e ganhou um público mais amplo, indiferente à
contestação política.
No ano passado, viajando de trem na Itália, uma colega
que trabalha com moda me explicou, simplesmente, que “irreverência vende”.
– O público feminino adora – ela acentuou. A moça é
funcionária de uma indústria têxtil paulista (na região de Americana) e
costumeiramente viaja a Milão e Turim para conferir as tendências do vestuário.
– A Itália é referência no mundo da moda – ela disse.
E me contou que, entre outras coisas, o seu trabalho consistia em circular
pelas lojas, pelos departamentos de roupa feminina, e observar o que as
mulheres gostam, anotar as suas preferências. E calça rasgada está entre os
itens.
Ainda insisti na pergunta sobre o perfil do público
feminino, se eram mulheres que queriam encenar no próprio corpo, na vestimenta,
a contestação da ordem dos costumes, da ordem social e ela franziu a testa.
– Irreverência – ela frisou. E voltou a
repetir que era isso que as mulheres querem comprar. Ela repassava seu
relatório para os figurinistas da fábrica onde trabalhava, no estado de São
Paulo, os caras seguiam a orientação – as tendências apontadas – e a coisa vingava, isto
é, vendia.
Eu devo ter feito alguma cara feia, cara de quem não
entendeu, e a conversa não rendeu mais. Uma pena. Na certa a moça viu que eu
não entendo de gostos e preferências femininos, e descurtiu. Nós
éramos colegas numa escola de língua italiana para estrangeiros, tínhamos
terminado o curso e viajávamos na região de Marche. Eu ia a Macerata para
visitar o Museu Buonaccorsi, ela seguia um mais adiante para pegar um voo para
Milão.
Há tempo estou para escrever sobre essa moda das
calças rasgadas. A coisa me intriga. Em Siena, fotografei a vitrina de uma
butique (foto abaixo) e lá estava um manequim com calças rasgadas. A confirmação do que disse
a minha colega: em Milão, em Siena, em São Paulo e em tantas outras cidades do
Brasil e do mundo, tudo a mesma coisa: a irreverência vende.
Mas tem que ser conjugada com um sapato de grife, um
cinto idem, uma blusa de seda, coisas assim, me explicou – didaticamente – uma
amiga, insistindo para que eu largasse de mão a implicância com esse modismo.
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