quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Para além da política partidária

 

“Sem anistia” e “Fora Hugo Motta” eram as chamadas para a manifestação política do último domingo (14 de dezembro) marcada para acontecer no entorno do Monumento ao Expedicionário, no Parque da Redenção, em Porto Alegre assim como em outras cidades brasileiras.

Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, na quarta-feira (dia 10), colocara em votação um projeto para diminuir a pena dos condenados pelo 8 de janeiro de 2023 e das lideranças golpistas e a maioria direitista dos deputados aprovou a medida.

Não deu outra e a esquerda foi para as ruas. Nem só a esquerda, por sinal, mas também pessoas que entendem que os condenados pelo STF comprovadamente atentaram contra o jogo democrático e isso não é possível admitir. Ou se defende o regramento democrático ou entramos numa zona de risco, isto é, de possibilidade de construção de nova ordem autoritária como a que vivemos durante o Regime Militar (sonho da maioria dos condenados pelo STF).

Não são inocentes os manifestantes de 8 de janeiro nem, muito menos, Bolsonaro, seus generais e delegados. Cada qual, no seu campo, operaram em favor de um golpe que, felizmente, não vingou.

Pois estive presente na manifestação de domingo, peguei os últimos pronunciamentos na Ponte de Pedra (ponto final do ato político, depois de uma passeata saída do Parque da Redenção) e fiquei impressionado com a animação dos grupos de juventude, grande parte de matriz estudantil, com indumentária e gestualidade que indicavam uma diversidade sexual impressionante, muitas vezes desconhecida. Mas visível naquelas agremiações políticas, à esquerda da posição conciliadora dominante no Partido dos Trabalhadores.

Ato contra a anistia aos golpistas.
Praça da Ponte de Pedra, Porto Alegre.

Uma gurizada visceralmente contrária à tentativa da extrema-direita em inocentar a sua militância e lideranças, apaixonadamente comprometida com o jogo democrático liberal, entendido como o caminho possível para a acumulação de forças das classes populares e a futura transformação da ordem econômica e social.

Mas, para além da pauta político partidária (a luta contra a anistia aos golpistas), me surpreendeu a disposição revolucionária dessa juventude. Uma revolução especialmente endereçada à mudança de costumes, indicada na indumentária e na gestualidade dos militantes, claramente libertários.  Sinais de androginia, transexualidade e sei lá mais o quê. Sinais de uma realidade sexual que nomeio com um vocabulário antigo, mas creio que capaz de dar conta da sua riqueza. Há um mundo novo, ali, querendo vir à tona.

Mais do que política partidária, essa gurizada radical me pareceu comprometida com a invenção de novas formas de se fazer presente, sentir e viver. Além da política, a transformação da vida. Os conservadores do Congresso (incluindo aí o engomadinho Hugo Motta) apenas como expressão política das forças econômicas e sociais que preservam esse mundo desigual e opressor, que necessita urgentemente ser transformado.

Apesar de distante das pautas radicais dessa juventude, me senti emocionado com a sua vibração e disposição de luta. Um entusiasmo contagiante.

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