“Sem anistia” e “Fora Hugo Motta” eram as chamadas
para a manifestação política do último domingo (14 de dezembro) marcada para
acontecer no entorno do Monumento ao Expedicionário, no Parque da Redenção, em
Porto Alegre assim como em outras cidades brasileiras.
Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, na
quarta-feira (dia 10), colocara em votação um projeto para diminuir a pena dos
condenados pelo 8 de janeiro de 2023 e das lideranças golpistas e a maioria
direitista dos deputados aprovou a medida.
Não deu outra e a esquerda foi para as ruas. Nem só
a esquerda, por sinal, mas também pessoas que entendem que os condenados pelo
STF comprovadamente atentaram contra o jogo democrático e isso não é possível
admitir. Ou se defende o regramento democrático ou entramos numa zona de risco,
isto é, de possibilidade de construção de nova ordem autoritária como a que
vivemos durante o Regime Militar (sonho da maioria dos condenados pelo STF).
Não são inocentes os manifestantes de 8 de janeiro
nem, muito menos, Bolsonaro, seus generais e delegados. Cada qual, no seu
campo, operaram em favor de um golpe que, felizmente, não vingou.
Pois estive presente na manifestação de domingo,
peguei os últimos pronunciamentos na Ponte de Pedra (ponto final do ato
político, depois de uma passeata saída do Parque da Redenção) e fiquei
impressionado com a animação dos grupos de juventude, grande parte de matriz
estudantil, com indumentária e gestualidade que indicavam uma diversidade
sexual impressionante, muitas vezes desconhecida. Mas visível naquelas
agremiações políticas, à esquerda da posição conciliadora dominante no Partido
dos Trabalhadores.
| Ato contra a anistia aos golpistas. Praça da Ponte de Pedra, Porto Alegre. |
Uma gurizada visceralmente contrária à tentativa da
extrema-direita em inocentar a sua militância e lideranças, apaixonadamente
comprometida com o jogo democrático liberal, entendido como o caminho possível
para a acumulação de forças das classes populares e a futura transformação da
ordem econômica e social.
Mas, para além da pauta político partidária (a luta
contra a anistia aos golpistas), me surpreendeu a disposição revolucionária
dessa juventude. Uma revolução especialmente endereçada à mudança de costumes, indicada
na indumentária e na gestualidade dos militantes, claramente libertários. Sinais de androginia, transexualidade e sei
lá mais o quê. Sinais de uma realidade sexual que nomeio com um vocabulário
antigo, mas creio que capaz de dar conta da sua riqueza. Há um mundo novo, ali, querendo vir à tona.
Mais do que política partidária, essa gurizada
radical me pareceu comprometida com a invenção de novas formas de se fazer
presente, sentir e viver. Além da política, a transformação da vida. Os
conservadores do Congresso (incluindo aí o engomadinho Hugo Motta) apenas como
expressão política das forças econômicas e sociais que preservam esse mundo
desigual e opressor, que necessita urgentemente ser transformado.
Apesar de distante das pautas radicais dessa
juventude, me senti emocionado com a sua vibração e disposição de luta. Um
entusiasmo contagiante.
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