Cruzo de noite a praça central de Santa Maria – Praça Saldanha Marinho – e a encontro mais escura que o habitual e completamente vazia. Então recordo a primeira vez que a conheci, trinta anos atrás, e passa um filme na minha cabeça.
Praça Saldanha Marinho. Foto de 2022. |
Naquela noite, eu viera assistir a um show erótico
no Cine Independência e saíra um pouco enojado do espetáculo. Tinha muita
curiosidade em relação a esses espetáculos de sexo explícito, mas fora demais
para mim. Difícil classificar: excitante por um lado, mas degradante também.
No final, duas mulheres de quatro, cada uma cima de
uma cadeira com as bundas viradas para a plateia, encharcam as “partes” com vaselina
e logo entram dois homens com as “ferramentas armadas”. É a cena do anal para
finalizar a noite e um grupo de rapazes na primeira fila (com corte de cabelo
cadete, provavelmente militares) bate palmas e incentiva os atores a irem
fundo. Difícil descrever. Não dava para saber se a cena era erótica ou cômica. Acho
que as duas coisas. Pornografia mistura tudo.
Viera com um colega professor assistir ao show e recordo
que, depois do espetáculo, atravessamos a praça escura e ele foi fazer uma
ligação interestadual de uma cabine telefônica.
Eu me sentei num banco da praça e depois ele me contou, rindo, que uma
prostituta viera falar comigo:
– Ela tava querendo fazer um programa e tu nem deu
bola.
– Não notei – eu falei.
– Ela caminhava ao redor do banco e tu ali, parado,
olhando pro chão. Deve ter te achado bêbado ou veado.
Foi essa a minha estreia na praça e me dou conta
que já faz um bom tempo que não avisto prostitutas nessa área. Desde sempre
cruzo a praça de noite e acho que fizeram uma “limpeza” no local. Às vezes,
quando vou ao Teatro Treze de Maio, gosto de ficar pelas imediações depois do
espetáculo terminar, vendo o movimento. As pessoas saem aos poucos, formam
grupos na frente do teatro, conversam, riem, e vão se dispersando aos poucos. A praça tem vários públicos e ritmos, dá pra dizer.
Trinta anos atrás eu chegava na cidade, deixava o
Magistério Estadual depois de treze longos anos lecionando em Alvorada, Canoas
e Porto Alegre (desgostoso com o salário baixo) e apostava minhas fichas na
Universidade Federal. Valeu a pena.
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