segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Visita ao Museu do Ipiranga

 

Estive em São Paulo com minha companheira e fizemos um pouco de tudo. Sete dias de passeios intensos e variados. Batemos pernas pelo centro da cidade, pela Avenida Paulista e achamos tudo muito bonito. Só nos demos mal quando saímos do Mercado Municipal e enveredamos por uma rua muito suja, com moradores de rua revirando lixo. Assustados (eu cheguei a imaginar o pior), saímos dali o mais depressa possível.

Afora este episódio desagradável, andamos somente pelos espaços bacanas da cidade: os museus, as casas-museus, os institutos culturais, as livrarias, as padarias e os bons restaurantes. Entre esses lugares bonitos, o Museu do Ipiranga, que reinaugurou em 2022. Um lugar que eu estava curioso para rever e saber como foram mantidas/reorganizadas as velhas narrativas criadas por Afonso Taunay, diretor do museu na época das comemorações do 1º Centenário da Independência. Narrativas centradas em grandes personalidades (como Raposo Tavares, Fernão Dias e D. Pedro I) que, com o tempo, foram consideradas “eurocêntricas, androcêntricas, etnocêntricas e elitistas”.

Prédio do Museu do Ipiranga.
No primeiro andar, o salão nobre, onde se encontra o quadro de Pedro Américo.

Uma tarefa e tanto manter as pinturas e esculturas que embasam uma visão de história (hoje contestada) e, ao mesmo tempo, indicar os contrapontos e críticas a essa narrativa. Uma empreitada levada a bom termo, me pareceu. O museu foi construído para consolidar e exaltar uma visão paulista da história brasileira, iniciada pelos bandeirantes, centrada no famoso grito do Ipiranga, e não poderia fugir disso.

“Independência ou Morte!”, o famoso quadro de Pedro Américo está exposto na sala central (o  salão nobre) e na outra extremidade (fora do museu, depois de um extenso jardim e uma alameda igualmente longa) encontra-se o colossal Monumento à Independência. Este o eixo do museu. D. Pedro I erigido como personalidade fundamental, o herói que promoveu o rompimento dos laços com a Metrópole por meio de um gesto solene (o grito do Ipiranga) e consolidou um Estado Nacional de forma negociada e pacífica. Um modo de encarar a nossa independência desconsiderando os conflitos militares ocorridos nas províncias da Cisplatina, Bahia, Piauí, Maranhão e Grão-Pará, gerados por uma expressiva resistência armada portuguesa. Não foi fácil derrotar a gente lusitana! Houve guerra, sim, não muito diferente das que ocorreram no restante da América Latina, nas colônias espanholas.

Mas a visão que se consagrou foi a de um processo pacífico protagonizado pelas elites do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, entendimento que o Museu do Ipiranga consolidou. Uma visão de História que tem a sua matriz no Instituto Histórico Geográfico, no Rio de Janeiro, durante o Segundo Reinado, mas que não vou desenvolver aqui (é conversa pra mais de metro), apenas indicar.

Jardim e alameda, caminho entre o museu e o Monumento à Independência.

Na visita que fiz ao Museu do Ipiranga, dias atrás, eu queria era cumprir o rito proposto pela historiografia tradicional. Após contemplar o famoso quadro, propus a minha companheira caminharmos até o Monumento à Independência e ela topou. Fazia um calor danado e fomos. Valeu a pena. Nas outras vezes que visitara o museu não encarara a peregrinação até o monumento e dessa vez completei o ciclo: o quadro de Pedro Américo, a caminhada pelo jardim e alameda, o monumento.

Quando cheguei diante do monumento, o fogo estava acesso na pira da pátria e D. Pedro I e seus soldados estavam lá – em bronze – montados nos seus cavalos e erguendo as espadas. Um espetáculo e tanto. Professor de História que fui durante 38 anos, me senti realizado.

Painel central do Monumento à Independência.
Recriação do grito do Ipiranga imaginado por Pedro Américo.


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