domingo, 29 de setembro de 2024

Assalto ao quartel do 7º RI

 

Lembranças são assim: chegam de supetão. Comigo isso acontece frequentemente. E nem sempre são memórias ruins, pelo contrário. É um prazer ser tomado por elas.

Pois ontem de manhã eu estava caminhando por Santa Maria (me despedindo da cidade), passo pela frente do antigo quartel do 7º RI e recordo uma madrugada do início da década de 1990, quando meu amigo Luís Eugênio e eu fomos lá, paramos na frente do prédio, e rememoramos uma história que gostávamos muito.

Quartel do antigo 7º RI, atualmente do Comando da 6ª Brigada de Infantaria Blindada.
Foto do blog de José Antônio Brenner.

Eu morava em Santa Maria há pouco tempo (viera para esta cidade para lecionar na UFSM) e um colega nosso da Universidade nos dissera ter vivido um episódio fantástico (surreal, aos meus ouvidos) a respeito de um assalto àquele quartel, para salvamento de presos políticos, no final dos anos 60. Era uma história que ouvi o professor contar uma única vez, depois de ter bebido umas e outras. Um relato à boca pequena, com muitas lacunas, que resumo em dois parágrafos:

Ele pertencera a uma organização política que fazia oposição ao Regime Militar e alguns companheiros haviam sido presos. Entre esses militantes, uma moça muito bonita... Aqueles que não haviam caído se reuniram para deliberar a respeito do que fariam em relação às prisões e ele propôs a invasão do quartel. A turma recuou e ele, corajosamente, decidiu encarar a empreitada sozinho.

O restante da história é o professor, então um jovem estudante, com um lenço vermelho no pescoço, uma Smith & Wesson de cabo de madrepérola numa mão, uma granada na outra, tomando o quartel de assalto, durante uma madrugada. Ele imobiliza o guarda do portão principal, este o leva até a cadeia, os presos são libertados e ele os conduz pelo meio do campo, de Jeep, até a fronteira com o Uruguai.

Na oportunidade em que ouvi a história, o professor não admitiu contestação. Quando Luís Eugênio questionou – “Mas como, sozinho, invadir um quartel?!” –, ele se fechou e não tocou mais no assunto.

Luís Eugênio e eu, no entanto, nunca mais esquecemos e rememoramos o “causo” diversas vezes. Certa noite, depois de um jantar e muita conversa, resolvemos ir para frente do quartel para observar “in loco” se era possível ou não aquela história toda. Eugênio tinha um Opala e estacionou o carro na frente do 7º RI. Descemos e ficamos relembrando cada detalhe do mirabolante episódio: a Smith & Wesson, a granada, o susto do soldado que fazia a guarda no portão do quartel, a libertação dos presos e a viagem de Jeep pelo meio do campo, durante uma madrugada escura, em direção ao Uruguai...

– Uma história gaudéria – resumia Luís Eugênio, lembrando o detalhe do lenço vermelho, maragato, que o então jovem estudante colocara no pescoço para realizar a sua operação de salvamento.

Eugênio e eu nunca encontramos indício algum de que ocorrera um assalto ao quartel para o salvamento de presos políticos ou por outro motivo.

 

Obs.: o quartel do 7º RI foi inaugurado em 1913 e, segundo a descrição do memorialista José Antônio Brenner, suas “platibandas têm ameias imitando os parapeitos de fortaleza e nos cunhais há miniaturas de torreões ameados”. Uma construção impactante. Em 1987, o quartel passou a abrigar o Comando da 6ª Brigada de Infantaria Blindada, mas até hoje a população da cidade o designa como “Quartel do Sétimo”.

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