domingo, 16 de junho de 2024

O Fantasma da Ópera

 

Terminei de ler O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux, ambientado na Ópera Garnier, e lembrei, claro, da minha passagem por Paris, em 2019.[1] Estava numa excursão cultural com professores e alunos de uma universidade franciscana da minha cidade e, numa manhã, durante o café, uma professora sugeriu que fossemos visitar a Ópera Garnier (nome dado em homenagem ao arquiteto que a planejou), também conhecida como Ópera de Paris ou Academia Nacional de Música (nome que está escrito na fachada). Naquele dia, a nossa programação fora cancelado e alguns de nós toparam a ideia.

Pegamos o metrô e desembarcamos numa estação próxima ao teatro e a primeira visão do prédio foi de uma de suas laterais. Impressionante! Alguém foi se informar a respeito da visitação e soubemos que não estava aberto naquele dia ou naquele horário, não recordo mais. Contornamos o prédio, vimos a sua fachada e o deslumbramento foi total, sensação que compartilhamos com outros turistas que passavam pelo local. Uma festa! E então pude apreciar, pela primeira vez, a famosa escultura de Jean-Baptiste Carpeaux, “A dança”, representando um grupo de bailarinas nuas, bailando alegremente em torno de um rapaz igualmente nu. Uma peça que escandalizou a cidade, quando ali foi colocada, em 1869. Só dias depois soube que estava vendo uma cópia, pois visitei o Museu d’Orsay e encontrei a peça original, que fora retirada da fachada do prédio (na década de 1960) para protegê-la da poluição. Desde 1986, ela se encontra no d’Orsay.

"A dança", de Jean-Baptiste Carpeaux.
Cópia na fachada da Ópera Garnier.

Pois contornamos a famosa Ópera e fomos vê-la novamente do terraço das Galerias Lafayette, que ficam no entorno. (Pulo a parte relativa a essas galerias – point da moda parisiense, me explicaram, lugar de roupas caríssimas e de milionárias chinesas fazendo compras com malas de rodinhas –, pois é um capítulo a parte. Assunto para uma outra crônica.) No alto do terraço pude contemplar o teatro e conversei a respeito do Fantasma da Ópera, tendo como referência o filme de 2004, dirigido por Joel Schumacher, e também a peça (que assisti num teatro de São Paulo), ambos baseados num musical da Broadway, com canções belíssimas.

Mas naquele momento, no terraço das Galerias Lafayette, numa manhã cinzenta e fria de outono (fria como um dia de inverno, ao menos para nós, brasileiros), olhando a paisagem parisiense do alto, confesso que não conseguia juntar os pontos. Vivia o deslumbramento típico de turista que chega pela primeira vez a “Cidade Luz” (nome da cidade desde os tempos do Iluminismo, conforme os livros de História) e a lembrança que eu tenho é a de que eu era uma bobice só. Uma bobice boa de viver. Tinha um copo de café numa das mãos, bebia, tirava fotos, e lembrava vagamente do Fantasma, assim como de tantas outras histórias que aprendemos a respeito de Paris... Só agora (quase cinco anos depois) consigo fechar algumas dessas histórias.

Ópera Garnier (fundos) vista do terraço das Galerias Lafayette.

Sim, o Fantasma morava no interior da Ópera (segundo Gaston Leroux, o criador do personagem). Ele era um sujeito maligno, um homem de carne e osso, marcado por uma feiura atroz e por isso rejeitado até pelos pais. Nascera em Rouan e sua trajetória o levara a andar pela Europa, pelo Oriente Médio, desenvolvendo seus talentos como cantor e construtor (neste último caso, na Pérsia e na Turquia). Por fim voltou para a França, tornou-se empreiteiro e “apresentou uma proposta para o trabalho de fundação na Ópera” (p. 319). Construiu “um lar desconhecido do restante da terra” (incluindo um enorme lago) no subsolo do teatro, e ali se isolou dos “olhares dos homens”. Mas apaixonou-se por uma cantora lírica (Catherine Daaé) e é em torno dessa paixão que gira o romance. Ele a disputa com um jovem visconde e a esconde na sua morada subterrânea. O visconde vai atrás (com auxílio de um misterioso persa, antigo conhecido do Fantasma) e, por fim, a moça é libertada para fugir com o seu verdadeiro amor.

Não sei como li o romance até o final. Muito chato para o meu gosto. Mas valeu para fechar a história vivida no terraço das Galerias, quando me extasiei com a grandiosidade da Ópera Garnier e tentei lembrar as lendas criadas em torno da sua beleza e encantamento. Talvez um dia eu consiga visitar o seu interior...

Ópera Garnier (fachada principal).




[1] LEROUX, Gaston. O Fantasma da Ópera. Trad.: Andréia Alves. Janaína, SP: Principis, 2020. 320 p. O romance foi publicado em capítulos, pela primeira vez, entre 1909 e 1910. Pela indicação do personagem-narrador (um jornalista que investiga a veracidade a respeito do fantasma) a história se passa por volta de 1880.

Nenhum comentário:

Postar um comentário