Dias atrás (6 de fevereiro) desci com meu grupo de caminhada a Estrada do Perau, mas meu joelho direito não gostou. A Estrada tem pouco mais de cinco quilômetros, é bastante íngreme – liga a região do Planalto Central (Pinhal, atual Itaara) à Depressão Central (Santa Maria) – e exige boa musculatura nas pernas. Não foi o meu caso (faltou muque) e terminei a jornada mancando.
Fui ao reumatologista, ele não constatou nenhum problema (o
início de uma artrose, talvez, coisa da idade ou do reumatismo não sei) e me mandou ao fisioterapeuta.
– Pra fortalecer a musculatura e voltar às caminhadas –
ele disse.
Foi mais ou menos o que a fisioterapeuta avaliou e
hoje volto para a terceira sessão. Não quero deixar essa atividade física tão prazerosa:
pernear pelas ruas, estradas, desertos e praias.
A Estrada do Perau foi aberta durante o período farroupilha
pelo governo republicano (por volta de 1840) e era chamada Picada do Pinhal. Tinha
a largura suficiente para uma carreta e, segundo consta (informações orais,
mais leitura do Diário de Santa Maria), os farroupilhas pensaram a
estrada como uma via alternativa ao tradicional caminho de São Martinho da
Serra (aberto no século XVIII, no tempo das Missões Jesuíticas e dos embates entre os impérios de
Portugal e Espanha na região).
Durante o período farroupilha, tornou-se uma alternativa
para enviar tropas da região da Campanha (onde se localizaram as capitais da
República Sul-Riograndense) para Cruz Alta (no Planalto). Tempo de guerra, de lutas entre gaúchos republicanos e as forças do Império do Brasil, até
hoje relembrado pelos centros tradicionalistas – como bem comprovaram, naquele
dia de caminhada, o grupo de gaúchos que cavalgavam na estrada e cruzaram por
nós.
Grupo tradicionalista subindo a Estrada do Perau. |
Em 1942, a estrada foi pavimentada por paralelepípedos,
na década de 1980 abrigou um “motel ao ar livre” (estacionamento pago para o
pessoal ir de carro namorar e transar) e se tornou um “território mágico” para os
santa-marienses. A estrada é pitoresca, apresenta desafios para motoristas que
gostam de testar suas habilidades, preserva traços da Mata Atlântica, tem vistas bonitas de
Santa Maria e da Garganta do Diabo (hoje com outro nome, que eu me nego
utilizar) e recentemente foi revitalizada. A estrada foi limpa, os mirantes
passaram por reformas (com pintura de murais muito criativos) e aumentou a sua frequência.
A Garganta do Diabo, vista do terceiro mirante da Estrada do Perau. |
Meu grupo de caminhada se inseriu nessa revitalização
da estrada e, no domingo retrasado, desceu bravamente o caminho. Minhas colegas
se saíram muito bem, mas eu fraquejei. Acredito, porém, que a fisioterapia vai
me restabelecer e logo as caminhadas nos espaços íngremes não serão mais problema.
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