Javelin é o míssil antitanque que se tornou a vedete da resistência ucraniana diante da invasão russa. Tem um metro de comprimento, pode destruir um blindado com precisão de 90% e seu lançamento é operado por apenas dois soldados. Cada unidade vale R$ 400 mil, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
É uma criação norte-americana, abastece o exército
ucraniano desde o ano passado e, só nas primeiras semanas da guerra, 2.600
unidades desse míssil chegaram ao “país parceiro da OTAN”, principalmente pela
fronteira com a Polônia.
Ao que tudo indica, o Javelin não é dos artefatos mais
caros utilizados no conflito. Os valores dos blindados, carros lançadores de
mísseis e helicópteros, por exemplo, alcançam cifras muito maiores,
estratosféricas.
Nos anos 70, a revista O Correio da UNESCO publicou
uma reportagem a respeito da indústria armamentista da época e, num box, colocou
o valor de cada blindado, avião e míssil fabricados e, ao lado, no que essas
cifras fabulosas poderiam se transformar caso fossem aplicadas na construção de
moradias, hospitais e escolas. Chocante.
Meu amigo João Cavedini colecionava a revista (tinha
assinatura, se não me engano) e me emprestava regularmente. Liamos e
comentávamos as reportagens horas a fio. Difícil entender a racionalidade e desumanidade
do custo das armas, mas era o mundo, concluíamos. Gastos necessários para o
mundo ser o que é.
Eu cursava História, na UFRGS, meu amigo fazia
Biologia, na PUCRS, e compreender os dilemas da política e da sociedade era um
desafio para nós. Continua sendo, tenho vontade de dizer – mas confesso que mudou,
pois não me espanto tanto quanto naquele tempo.
Continuo me esforçando para entender, continuo
sintonizado no dial de que “precisamos fazer alguma coisa pela Humanidade”, mas
com menos ardor. Me preocupo com a poluição do meio ambiente, com o desperdício
de matérias-primas (o plástico, o alumínio, o papel) e, por isso, sou desses
que separam o lixo orgânico do seco e levo esse último nos containers para reciclagem.
Do lixo seco ainda separo as caixas de leite (que
corto a ponta e lavo), as tampinhas plásticas de refrigerante, as cartelas de
comprimidos e os lacres de latinhas de cerveja e refri para colaborar com as
campanhas humanitárias que visam atender deficientes físicos e/ou auxiliar
pessoas a cuidar de animais domésticos.
Um quilo de tampinhas plásticas vale R$ 1,70; 3.500
quilos de cartelas de remédio (blisters), uma cadeira de rodas – e assim vamos.
Vale muito pouco o que fazemos, separando, limpando e juntando lixo reciclável.
Esforço enorme para um resultado pífio. Se poderosos de plantão pensassem diferente
e canalizassem os investimentos feitos em armamentos...
Bem, deixa pra lá – digo para mim mesmo, enquanto lavo mais uma caixa de leite e a coloco no secador, ao lado da pia. Quando somar 40 caixas, levo no posto de coleta.
Para ilustrar essa crônica, pensei em colocar uma imagem do míssil Javelin. Mas refleti melhor e optei pela capa de uma das edições d’O Correio da UNESCO, um exemplar que reflete bem o que sempre foi essa revista: depositária do que de melhor a Humanidade faz: a arte e a literatura.
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