sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Viagem a Fernando de Noronha

 

A pandemia não terminou e me encorajei a atravessar o país e visitar a ilha Fernando de Noronha. Para um sujeito que encarou o isolamento social de forma radical, foi uma áfrica e tanto. Apresentei comprovação de vacinas para ingressar na ilha, segui os protocolos de segurança recomendados e deu tudo certo, isto é, apesar de vivenciar algumas situações de aglomeração (nos aeroportos), não houve contaminação nem preocupação excessiva. Até agora, tudo bem.

A opção pela viagem foi repentina e ainda me espanto com a decisão. No início de outubro entrei em contato com uma agente de turismo para obter informações sobre futura viagem (no próximo ano), ela me apresentou uma excursão a ilha e não resisti. Era a hora, uma oportunidade e tanto, e fui. Cinco dias na ilha. Voltei ontem de madrugada.

A chegada no aeroporto de Fernando de Noronha.

Não imaginei fazer esse preâmbulo para narrar uma viagem. Quando iniciou a pandemia, pensei que seria por curto período de tempo e logo a normalidade seria recuperada. Doce ilusão. Volto às atividades normais com o vírus ainda disseminado, causando mortes, com a vacinação lenta (no Brasil, ainda não foi alcançado 70% da população, que entendi ser o mínimo para uma situação segura) e tem sido um exercício e tanto encarar essa situação.

Sentado numa cadeira na Praia de Santo Antônio, depois de um banho num mar de águas límpidas e calmas (tendo ao fundo o porto da ilha), fiquei pensando em como faria o registro da viagem... Uma viagem de turismo em tempos de peste. Os números relativos às contaminações, doentes e mortos em queda no País, mas ainda uma situação que requer cuidados especiais, segundo às autoridades médico-sanitárias sérias (Conselho Federal de Medicina fora, pois está atolado no bolsonarismo).

Naquela tarde, estirado numa cadeira de praia, eu estava exaurido pelas trilhas e passeios (de barco inclusive, com direito a flutuar no mar e olhar os peixes por meio de máscara) e procurava reunir as impressões da viagem. Os cenários paradisíacos, o aspecto bucólico das vilas (com 6 mil moradores no total), os relatos dos habitantes, as experiências vividas.

Praia de Santo Antônio com o porto ao fundo,

Quanto ao relato dos moradores, escutara pontos de vistas diversos em relação a viver na ilha. Segundo Carlinhos (um divertido guia de passeios), Fernando de Noronha é um lugar tranquilo, sem registro de violências como roubo, assalto e assassinato, e só isso justifica a satisfação em viver no local. Ele é natural da ilha e ali fez a sua vida, desde cedo envolvido com turismo. Só se assustou no ano passado, quando a pandemia interrompeu o fluxo de viajantes e criou uma situação desesperadora (que se normalizou a partir do final do ano passado).

Um motorista de táxi, no entanto, me disse que a tranquilidade da ilha tem um preço alto: custo de vida caro, com gasolina (neste início de novembro) a R$ 9,60. Relato ampliado por uma vendedora, numa loja: local tranquilo, sim, mas tedioso. “Só trabalho e praia”, ela disse, de modo desanimador. E concluiu não ver a hora de voltar a morar em Recife (cidade em que nasceu). Ela e o marido estão ilha só para fazer um pé de meia, explicou. Ilha tranquila, cara, mas com alternativas de ganho financeiro.

Seria a ilha um cenário paradisíaco apenas para os turistas? Pergunta que não arrisco responder. Sou um turista e vejo a ilha desta perspectiva. Sempre entendi as áreas portuárias como locais de muita sujeira e me espantei ao tomar banho próximo aos navios ancorados, como fiz nessa prainha chamada Santo Antônio. As águas são cristalinas (com água pelo pescoço, enxerguei meus pés) e me espanto com os cuidados em relação ao lixo. Tema para outros textos desse cronista que está se arriscando a sair de casa e habituando-se aos novos tempos.

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