Sonhei que estava de volta a Basílica da Santa Casa de
Loreto e caminhava pelo seu interior.
Essa basílica fica na Itália e a “Santa Casa” a que se
refere é uma casa palestina, trazida no século XIII pelos Cruzados e depois
instalada no alto de uma montanha, em Loreto. Uma casa que os cristãos medievais
acreditavam ser aquela em que a Virgem Maria viveu e recebeu o anjo Gabriel.
Tornou-se um santuário mariano e em torno da pequena
moradia (de uma peça só) foram colados grandes blocos de mármore (com duas
portas de acesso ao interior da casa), ricamente trabalhados por escultores do
Renascimento. Em torno disso tudo, construiu-se uma enorme basílica, com ricas
pinturas no teto, mais diversas obras de arte por todos os cantos. Não há
espaço que não seja decorado.
Visitei a basílica em fevereiro de 2017 e até então
nada sabia a respeito. Segunda a lenda, foram os anjos que trouxeram a casa da
Palestina. Uma lenda bonita, que contribui para a emoção da visita: a casa da
Mãe se instala no alto de uma colina italiana, vindo de muito longe, da
Palestina, trazida pelas mãos dos anjos.
Como é proibido tirar fotos dentro da igreja, coloco abaixo
uma foto do exterior para dar a uma ideia da dimensão grandiosa do templo. E logo
abaixo outras fotos, do chafariz em frente da igreja, com destaque para as
figuras fantásticas e monstruosas – que, de certa forma, fazem um contraponto ao sublime que a igreja encerra.
Mas o importante é dizer que sonhei com a basílica. Que
caminhava pelo interior da igreja, dava a volta em torno da Santa Casa e uma
voz me inquiria a respeito do que eu fazia ali. “Voltando ao princípio dos
tempos”, eu respondia. Mas depois, acordado, com o pensamento sereno, reconheci
que apenas voltava ao princípio de mim mesmo. Voltava ao território da Mãe –
não a Mãe Celestial do panteão católico, mas aquela mãe que me proporcionou
nascer e me criou. Me questionava a respeito do lugar que essa mulher, minha
mãe, ocupa dentro de mim.
No sonho, eu caminhava em torno da Casa da Mãe e
pensava sem aflição, feito um arqueólogo escavando a si próprio. Um arqueólogo em busca
da sua Tróia, o local mítico da própria fundação. Lugar de conflitos, embates
sangrentos - território do Pai e da Mãe -, e que um dia adquire uma estranha paz, a almejada paz das paisagens
bucólicas. A paz desejada e nunca, completamente, compreendida e aceita.
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