Meninos gostam de histórias de guerra. Eu gostava. Meninos
desconhecem a crueldade das batalhas e veem apenas a coragem, a ação, a
habilidade com as armas. Eu era assim. Meninos são assim.
Guri nos meados dos anos 60, eu frequentava as matinês
com meu pai todos os finais de semana e os filmes ambientados no Mundo Antigo estavam entre os preferidos. Por meio deles eu tomava conhecimento dos Argonautas, de Rômulo & Remo e da expansão do Império Romano. Quando o filme terminava, voltávamos a
pé para casa, e eu cravava meu pai de perguntas. Queria saber mais. Principalmente
se o tema nas telas fora a história romana.
Legionários em campanha militar. Coluna de Trajano. |
Numa dessas conversas, ouvi pela primeira vez a
respeito do combate entre os irmãos Horácios e os irmãos Curiáceos. Um episódio
que aconteceu no tempo em que Roma ainda era um povoado de pastores, no governo
de Túlio Ostílio, o terceiro rei romano.
Túlio Ostílio declarou guerra a Alba Longa e
enfileirou seus soldados diante das tropas inimigas. Os dois reis conversaram e
estabeleceram que os seus campeões decidiriam o resultado do confronto. Da parte de
Roma, se apresentaram os três irmãos Horácios; de Alba Longa, os três irmãos Curiáceos;
e iniciou a luta. A briga foi violenta e ao final restou apenas um Horácio.
Roma venceu.
A história tem mais detalhes, mas o essencial é esse: restou
apenas o campeão romano, os guerreiros de Alba Longa ficaram mortos no campo
de batalha. Alba Longa foi destruída e a sua população incorporada à romana.
Relembro essa história lendária e revivo as emoções do
menino que eu fui. Que gostava de histórias de guerra, que não sabia o que era
crueldade, que não entendia a complexidade humana. Apenas um menino, com a
pureza e a ignorância típicas da infância saudável.
Depois aprendi que essa fórmula narrativa - centrada nos heróis - é apenas um
modo de contar a história. Os acontecimentos político-sociais, as guerras
inclusive, não cabem em esquemas tão simples. Principalmente, entendi a
respeito da crueldade humana e minha compreensão do mundo mudou.
Meninos, no entanto, não entendem nada disso. Meninos gostam
de histórias de guerra. Gostam de lendas e heróis, simples e brutais. Eu gostava.
Muitas delas aprendi com meu pai, conversando sobre cinema.
Às vésperas de embarcar para Roma e passar nessa cidade duas semanas, reencontro essa história lendária a respeito da Roma Antiga e me emociono. Revivo o entusiasmo do menino que eu fui. Revejo uma das tantas camadas de história que a Roma atual é capaz de proporcionar aos seus visitantes - as ruínas do Monte Palatino, por exemplo, o local da primitiva Roma dos pastores - e tremo de emoção. Uma explosão de emoções conflitantes. A sedutora possibilidade de reencontrar o menino, a infância, o pai.
Às vésperas de embarcar para Roma e passar nessa cidade duas semanas, reencontro essa história lendária a respeito da Roma Antiga e me emociono. Revivo o entusiasmo do menino que eu fui. Revejo uma das tantas camadas de história que a Roma atual é capaz de proporcionar aos seus visitantes - as ruínas do Monte Palatino, por exemplo, o local da primitiva Roma dos pastores - e tremo de emoção. Uma explosão de emoções conflitantes. A sedutora possibilidade de reencontrar o menino, a infância, o pai.
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